CARTOGRAFIAS DE DESEJOS, MAPAS DE ESPERANÇAS – ITINERÁRIOS EM (TRANS) FORMAÇÃO
“Para ouvir este grito é preciso colocarmos à sua escuta. Exige de nós uma atenção que é atenção às necessidades de nossa sociedade, aos seus problemas, às suas angústias e inquietações do nosso povo, seus problemas”
Moacir Gadotti
“A ecologia dos saberes baseia-se na ideia de que o conhecimento é interconhecimento”
Boaventura de Souza Santos
“Só é possível descolonizar os currículos e o conhecimento se realizarmos o olhar sobre os/as sujeitos/as, suas experiências, seus conhecimentos e a forma como os produzem”
Nilma Lino Gomes
“Mas como um/a professor/a no exercício de seu ofício pode levar um/a aluno/a para tão longe, se no seu estudo não há o contato com o longe? O longe aqui tem a ver com o que não está dado nos conteúdos programáticos, e tem a ver com outras seleções que um/a professor/a faz para apresentar algo a alguém, para fazer com que se dê conta de algo”
Ana Preve
Educação Especial inclusiva em Rio Branco – leituras introdutórias é um exercício de cartografia dos desejos, mapas da esperança, como tais comportam limites, divergências e reconversões em curso. Essa inscrição transversal revela, por sua vez, uma abertura para pensar o próprio ato de ler, pesquisar, escrever e publicar. Mais ainda, incentiva reconhecer que esses quatro verbos expressam nossa condição nômade e errante na (re) construção das ecologias dos saberes, como quer Boaventura de Sousa Santos.
Assim, esta obra pactua das concepções de um nomadismo pedagógico e uma errância epistemológica cuja hipótese de trabalho esteja pautada em não apenas investigar, mas também aprender a importância das ignorâncias coletivas em relação à tensão, resistência e resiliência da educação especial inclusiva.
A rigor, compreender as ignorâncias ressignificadas como ato de valorizar o que há de próprio e comum à atividade docente, ao pavimentar o intercâmbio entre o discurso pedagógico e a jurisprudência de leis, decretos e documentos oficiais para interpretar os desafios, as tendências e perspectivas da educação especial e intervir na construção de saberes sensíveis à diferença decolonial no espaço escolar.
Ao enfrentar esses problemas cruciais a uma efetiva formação humana, o livro pretende transgredir razões cartesianas e abrir linhas de fuga cuja pedagogia da intervenção transforme a educação especial inclusiva um lugar de múltiplos diálogos, de modo a concretizar uma inclusão não que não exclua, antes valorize, pavimente e efetive a emancipação dos/as agentes educacionais.
De fato, é a partir dessa via de relações, reflexões e curiosidades epistemológicas que a obra apresenta uma cartografia dos desejos e um mapa da esperança, procurando perspectivá-las em sua complexidade conectiva, prospectiva e resiliente. A saber, elabora um percurso de leitura do que foi feito pela Secretaria Municipal de Educação de Rio Branco para organizar e dinamizar o trabalho pedagógico na escola rio-branquense, bem como traça, sem pretensões conclusivas, um itinerário em (trans) formação, o qual convoca à elaboração de outras trajetórias críticas para trabalhos futuros, sendo, enfim, um texto aberto à recepção de vozes, saberes e ações plurais.
Inclusive, como mapa que não se quer fixo e totalizador, os capítulos desta obra oportunizam o contato com as paisagens dos marcos legais da educação especial, além de exporem as redefinições destes no cenário das escolas rio-branquense. Sendo assim, o/a leitor/a encontrará, deste modo, uma introdução aos caminhos da inclusão e as estratégias teórico-práticas articuladas pelos/as agentes envolvidos/as tanto no planejamento quanto realização das atividades pedagógicas.
Não sem rodeios, é por aí que caminha, rizomaticamente, a proposta deste livro: descolonizar modos de ler, escrever e sentir a luta e resistência daqueles/as que vivem a educação especial inclusiva em Rio Branco.
Afinal, como diz Nilma Lino Gomes, promover a descolonização dos currículos significa, acima de tudo, aprender a olhar os/as sujeitos, valorizá-los/as, conhecê-los/as, escutá-los/as e aprender a aprender com os/as sujeitos/as da educação especial inclusiva rio-branquense. Tal mirada crítica implica reconhecer que eles/elas são produtores/as de conhecimento que não somente podem tensionar as práticas pedagógicas, mas também indagá-las e trazerem outras perspectivas e interpretações.
Se, como argumenta Ana Preve, o/a professor/a tem a função de levar seu/sua aluno/a para longe, isto é, elaborar e divulgar um lugar de (trans) formação marcado por dúvidas, desejos e sentidos móveis, esta obra que apresentamos à comunidade acadêmica busca reconhecer que a educação especial inclusiva rio-branquense é um lugar de complexidade. Noutras palavras, constitui um tema e problema de pesquisa a ser investigado, ampliado e divulgado a partir de distintas abordagens teórico-metodológicas, com vistas a fortalecer o debate das ecologias dos saberes, os currículos decoloniais e as escutas e provocações do ensinar e aprender hoje.
Em linhas gerais, Educação Especial inclusiva em Rio Branco – leituras introdutórias tem a pretensão de ser uma plataforma aberta ao debate, que possa contribuir para o estímulo de futuras pesquisas sobre educação especial inclusiva decolonial, bem como ampliar a reflexão a partir do corpo-linguagem-memória inclusiva da/na/além sala da aula.
Talvez, assim, seja possível praticar, expandir e esperançar novas cartografias dos desejos e descosturar, desenhar e desgeometrizar os mapas das esperanças da/além da educação inclusiva rio-branquense.
Talvez coubesse, ainda, expandir os itinerários em (trans) formação sobre o ofício do/a professor/a e pesquisador/a dos desejos e esperanças de uma ecologia dos saberes errantes, nômades e éticos da educação especial inclusiva.
Talvez, portanto, fosse necessário “ensinar a transgredir”, como defendia Bell Hooks, e aprender a transformar utopias em realidades cujas cartografias e mapas sejam atravessados pelos itinerários da democracia, emancipação e liberdade do ato crítico da educação especial inclusiva de Rio Branco.
Enfim, espera-se que os/as leitores/as atravessem as cartografias de desejos, traduzam os mapas de esperanças e reelaborem seus itinerários da vida em (trans) formação neste livro-devir.
Amilton José Freire de Queiroz (Universidade Federal do Acre)
Rogério Nogueira de Mesquita (Universidade Federal de Rondônia)
Joaquim Oliveira de Souza (Secretaria Municipal de Educação de Rio Branco)
Girlane Brana Vilela (Secretaria de Estado de Educação e Esporte do Acre)
Joaquim Oliveira de Souza
Rogério Nogueira de Mesquita
Girlane Brana Vilela
Amilton José Freire de Queiroz