Sociobiodiversidade da Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá
APRESENTAÇÃO
O livro Sociobiodiversidade da Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá figura como a primeira obra literária sobre uma Área de Proteção Ambiental (APA) do Acre e desponta como a primeira obra sobre uma das nove Unidades de Conservação sob gestão da Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Acre.
Composto por 17 capítulos assinados por 51 autores e autoras, este livro sintetiza os sonhos e realidades dos moradores que vivem na APA Lago do Amapá, dos técnicos da Secretaria do Meio Ambiente que fazem a sua gestão e de pesquisadores que se aventuraram na investigação da sua biota.
Na iminência da APA completar quase duas décadas de existência, o livro descortina aos leitores as características físicas dos seus ambientes e, ao longo de uma trilha cujo percurso começa por tudo o que ela é e segue por tudo o que ela tem, ele discorre sobre a riqueza de espécies da flora, da fauna e da funga.
Os primeiros passos percorrem o caminho da abordagem histórico-cultural e política envolta na questão da sua territorialidade (Capítulo 1) e o passeio continua no rumo do contexto e das motivações que resultaram na criação da APA, passando por vias recheadas com as características estruturais, socioeconômicas e ambientais da área (Capítulo 2).
Como o lago do Amapá é um ícone da APA, neste compêndio não poderiam faltar informações sobre a hidrogeomorfologia desse acidente geográfico que testemunha a dinâmica do rio Acre (Capítulo 3). Como fruto de um mapeamento derivado do reconhecimento de alta intensidade, a diversidade de solos da unidade de conservação e as suas características são tratadas no livro em escala detalhada (Capítulo 4).
Os rios geologicamente novos do sudoeste da Amazônia possuem cursos mutáveis que imprimiram e imprimem formas diversas ao relevo da região e determinam a formação de uma paisagem cuja cobertura florestal se estende por entre planícies de inundação, paleomeandros e terraços aluviais, e revelam como a vegetação da APA é sui generis (Capítulo 5).
No compasso das estações, o ritmo das chuvas do inverno Amazônico influencia os ambientes aquáticos, paludosos e de terra firme, fazendo desse remanescente uma área repleta de riquezas, novidades biológicas e redescobertas. Ela é uma das áreas do estado mais bem conhecidas do ponto de vista da flora vascular, uma vez que abriga pouco mais de 10% das espécies de plantas conhecidas no Acre, além de espécies inéditas para o estado, para o país e para a ciência (Capítulo 6). A APA é uma área rica em espécies de cogumelos e a lista de macrofungos gerada para a área, a primeira a ser produzida para uma Unidade de Conservação no Acre, contém uma centena de espécies e surpresas quanto à ocorrência de cogumelos comestíveis (Capítulo 7).
Nas águas escuras do lago Amapá crescem várias espécies de organismos microscópicos, cujo tamanho é da ordem das dezenas a centenas de micrômetros, uma escala que representa a milésima parte do milímetro. Organismos como os zooplânctons (Capítulo 8), o alimento preferido dos peixes, e como os insetos macroinvertebrados aquáticos (Capítulo 9), um grupo que começou a ser estudado na APA apenas recentemente.
Cruzam o espaço aéreo e vivem nesta área natural protegida, mais da metade das espécies de abelhas das orquídeas encontradas em Rio Branco, as quais seguem imbuídas da nobre missão de polinizar centenas de espécies de plantas (Capítulo 10).
Nas águas calmas do lago e nas águas barrentas do rio Acre e do Riozinho do Rôla vive quase a quarta parte das espécies de peixes conhecidas no Acre, muitas delas com potencial para a aquariofilia, a pesca comercial e de subsistência, além daquelas com importância médica (Capítulo 11). A APA protege dezenas de espécies de anfíbios e répteis, grupos onde estão os sapos, as cobras, lagartos, cágados e jacarés, algumas delas registradas pela primeira vez em Rio Branco (Capítulo 12).
A APA está entre os paraísos para os observadores de aves no Acre, uma vez que ali pode ser encontrada quase a metade das espécies de aves conhecidas no estado, entre elas, espécies endêmicas, táxons intimamente associados às florestas dominadas por bambus, espécies migratórias e não raramente, aves de extraordinária beleza (Capítulo 13). Essa unidade de conservação abriga cerca de 10% das espécies de mamíferos voadores, terrestres e aquáticos conhecidas no estado (Capítulo 14), incluindo espécies endêmicas que completam o nosso conhecimento sobre a biodiversidade dessa área tão especial.
A picada que conduz os leitores à conclusão do livro passa pela compreensão do cenário político mundial, nacional e estadual, assim como, do contexto que envolve a criação da APA (Capítulo 15), pelo entendimento sobre o processo participativo e representativo do conselho gestor da APA Lago do Amapá (Capítulo 16), e evidencia os bastidores do processo de revisão e atualização do plano de gestão (Capítulo 17), que reflete o esforço coletivo para a conservação da APA e dos seus recursos naturais, assim como, para a atualização dos usos da unidade.
Esperamos que a leitura deste livro amplie horizontes e seja um desfrute aos leitores
Os organizadores.
Marcos Silveira
Mirna Caniso